27/07/2011

MONUMENTO À INCOMPETÊNCIA

MontBlanc alpinismo

Em 1999 o corpo do alpinista inglês George Mallory foi encontrado a cerca de
8.200 metros de altitude no monte Everest. Mallory desapareceu em junho de
1924 quando estava próximo ao cume. Uma afirmação de um dos alpinistas que
encontrou o corpo me chamou a atenção:
"Fiquei impressionado com as roupas que ele usava. Hoje em dia, no inverno,
qualquer pessoa caminhando pelas ruas de Seattle está mais protegida do que
Mallory no Everest em 1924."

"Lembrei-me dessa história durante uma visita que fiz a uma empresa na qual
fui recebido pelo principal executivo, que fez questão de se identificar
como CEO - Chief Executive Officer. Bonito né? Depois fui apresentado para o
CMO, o CFO e o COO, executivos de marketing, finanças e de operações,
respectivamente. Todos jovens MBAs formados no exterior.
Ao percorrer a empresa passamos por salas vazias, mesas vazias e grandes
áreas vazias. E os jovens CEO, CFO, CMO e COO diziam com orgulho: "Isto aqui
já esteve apinhado de gente. Fizemos uma reestruturação ao longo dos últimos
dois anos e reduzimos em 45% o numero de pessoas, enquanto nossa
produtividade cresceu 22%! Fazemos questão de deixar esses lugares à vista
de todos. São nosso Monumento à Incompetência."
Em minha palestra O Meu Everest afirmo que um dos ensinamentos mais
importantes da viagem ao Campo Base da maior montanha do mundo foi aprender
que, a cada vez que olhasse para cima, eu deveria olhar cinco vezes para
baixo. Quem pratica montanhismo sabe do que estou falando. Quando você está
no pé da montanha e olha a trilha que vai subir, dá um frio na barriga. Você
vê as pessoas lá em cima, como formiguinhas, e sabe que para chegar lá terá
que fazer uma escalada de oito, nove horas. Então ataca a montanha. Um
passinho aqui... outro ali... num processo penoso. Quando olha para cima,
percebe que seu objetivo ainda está muito longe, mas ao olhar para baixo a
mágica acontece. Você descobre que o campo base de onde saiu está láááááá
embaixo. Cada olhada para baixo dá a certeza de que você progrediu, gerando
energia para subir mais. Isso é automotivação: a certeza do progresso nos
empurra para cima.

O que aqueles jovens COs chamaram de "Monumento à Incompetência" é na
verdade a lembrança dos pioneiros que, com a carga às costas, sem
computadores, celulares e internet, assumiram o risco de sair lá do "campo
base" para desenvolver o negócio que eles hoje dirigem. Avaliar o passado
pelas lentes do presente e chamar de "incompetência" o esforço das pessoas
que passaram pelos anos de hiperinflação, incertezas, regime fechado,
tecnologias rudimentares, abertura econômica e dólar alto é como observar
hoje as roupas de George Mallory e achar que ele era um incompetente. Não
era. Usou o que havia de melhor na época e por pouco não atingiu seus
objetivos.
Parabenizei os COs pelo sucesso e deixei com eles uma recomendação:
- Rebatizem os "Monumentos à Incompetência" como "Memoriais aos Heróis do
Passado". Foram eles que trouxeram vocês até aqui em cima."

(*) Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista.

Um comentário:

  1. O valor dos homens mesmo antes do computador e da internet.
    Sempre foram dígnos de elogios, sem recursos como os atuais eles faziam acontecer...
    celle

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