Gorgonzola...
"Estamos
envelhecendo, estamos envelhecendo, estamos envelhecendo", só ouço isto.
No táxi, no trânsito, no banco, só me chamam de senhora.
E as amigas falam “estamos envelhecendo” como quem diz
“estamos apodrecendo”.
Não estou achando envelhecer esse horror todo.
Até agora.
Mas a pressão é grande.
Então, outro dia, divertidamente, fiz uma analogia.
O queijo Gorgonzola é um queijo que a maioria das pessoas
que eu conheço gosta.
Gosta na salada, no pão, com vinho tinto, vinho branco, é um
queijo delicioso, de sabor e aroma peculiares, uma invenção italiana, tem
status de iguaria com seu sabor sofisticadíssimo, incomparável, vende aos
quilos nos supermercados do Leblon, é caro e é podre.
É um queijo contaminado por fungos, só fica bom depois que
mofa.
É um queijo podre de chique.
Para ficar gostoso tem que estar no ponto certo da
deterioração da matéria.
O que me possibilita afirmar que não é pelo fato de estar
envelhecendo ou apodrecendo ou mofando que devo ser desvalorizada.
Saibam: vou envelhecer até o ponto certo, como o Gorgonzola.
Se Deus quiser, morrerei no ponto G da deterioração da
matéria.
Estou me tornando uma iguaria.
Com vinho tinto, sou deliciosa.
Aos 50 fui uma mulher para paladares variados, aos 70 sou
uma mulher para paladares sofisticados.
Não sou mais um queijo Minas Frescal, não sou mais uma
Ricota, não sou um queijo amarelo qualquer para um lanche sem compromisso.
Não sou para qualquer um, nem para qualquer um dou bola,
agora tenho status, sou um queijo Gorgonzola.
Clarice Niskier
Você vai garimpando aqui e ali, e seleciona os textos que te agradam. Em geral falam de otimismo e de sensibilidade. Como seria bom se tivéssemos muitos espaços assim neste universo cibernético! Um braço do amigo. Cláudio.
ResponderExcluirObrigada amigo, é só o que sei fazer!
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