11/04/2014

A FOTO DA SAUDADE

             

A mãe morreu na guerra. A saudade foi tanta que a menina fez um desenho no chão da escola e procurou abrigo. Sônia, minha amiga, mandou a foto que me comoveu profundamente.               
               Hila Flávia 

Saudade!
Quanto mais se escreve sobre ela mais indefinida fica, mais doe, mais dilacera...
Fico colecionando versos.
Leio que a saudade mata a gente, que a saudade é dor pungente. Canto Chico Buarque em Angélica e choro todas as vezes. Leio Antônio Pereira com seu poetar singelo: A saudade é um parafuso, que quando na rosca cai, só entra se for torcendo, porque batendo não vai. E depois que enferruja, nem destorcendo não sai.
Depois ele dá um conselho, o poeta da saudade: Quem quiser plantar saudade, escalde bem a semente, plante em terra bem seca, em dia de sol ardente; pois, se plantar no molhado, ela nasce e mata a gente.
E me lembro de uma canção antiga, lamentosa, muito da minha juventude: Saudade, torrente de paixão, emoção diferente, que aniquila a vida da gente, uma dor que não sei de onde vem.
Durante toda a vida não deixei que coisas passadas alterassem meu presente. Nem as boas nem as ruins. Tive em mente que, vivendo cada dia de uma vez, faria jus ao dom de cada amanhecer e cada pôr do sol. Dons diários de beleza presenteada aos que têm sensibilidade de vê-los e agradecer. E tantos motivos tive para me refugiar no que já havia passado.
Amigos queridos deixaram de fazer parte do dia-a-dia, juventude longínqua, mobilidade comprometida pela idade, expectativas abortadas. O passado, sendo muito maior do que o possível futuro, começa a pesar sobre o presente.
 À época do meu nascimento, bem mais da metade da população de meu amado país era rural e era jovem. Hoje é urbana e é madura. E mesmo assim, até pouco tempo, apenas o presente era  a minha meta. Ainda o é, sem dúvida, mas nem tanto mais.
Quando vi a foto da menina querendo colo, vi o quanto sinto falta dele. Colo de mãe. E é até incompreensível esta falta tamanha, pois quando minha amada e saudosa mãe se foi, ambas já éramos idosas. Ela e eu.
Mas é a saudade.
Não ouvi o conselho e plantei em solo regado pela chuva mansa que havia caído a noite toda, transformando meu coração em terra fértil. Nasceu vigorosa, forte, poderosa.
Desenharei na minha mente o retrato de minha mãe, tirarei os sapatos para respeitar o lugar sagrado e vou me aninhar. Terei então um rosto liso e cabelos louros em longas tranças cuidadosamente feitas. Ficarei um tempo me aquecendo, um pouco todo dia.
Um pouco só, apenasmente para me fortalecer e me alimentar de afeto, combustível vital para viver o presente.


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Celle