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"Aquífero Guarani" é a maior reserva subterrânea de água doce do mundo. Levou cerca de 200 milhões de anos para se formar. Atualmente, ele abrange oito Estados brasileiros e outros três países sul-americanos: Uruguai, Paraguai e Argentina. É uma área com 1.118.000 km², possui uma espessura média de 250 metros e um volume de 45.000 km³ de água que, até pouco tempo, se acreditava inesgotável.
No entanto, a seca que atinge o Sudeste brasileiro está afetando locais conhecidos como "pontos de recarga" do Aquífero Guarani. Um deles é a Lagoa do Saibro, em Ribeirão Preto, que não está recebendo a água de chuva necessária para manter os níveis da reserva subterrânea. Esse problema, por sua vez, torna cada vez mais difícil e cara a retirada de água do subsolo – quanto maior for a profundidade do lençol freático, maior é também a demanda de tecnologias novas e caras para atingir e coletar água dessa reserva hídrica. Em Ribeirão Preto, por exemplo, estima-se que o nível do aquífero rebaixou mais de 70 metros nos últimos anos1.
Por esse motivo, nem todas essas regiões conseguem captar água do aquífero. Outro problema sério é a motivo é a falta de pontos de afloramento, como nascentes de rio, ribeirões etc. As maiores áreas privilegiadas pelo manancial estão no Paraguai, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
No Estado de São Paulo, chegamos a um momento decisivo em relação à água em 2014. Na capital e na região metropolitana, a soma de fatores climáticos, crescimento populacional e da má administração dos recursos hídricos pelo governo estadual culminaram no rebaixamento, até o volume morto, do nível dos principais reservatórios, como o Cantareira. Já algumas cidades do interior, como Itu (101 km), Ribeirão Preto (313 km), São José do Rio Preto (438 km) e Bauru (342 km), vivem um momento tão crucial quanto, onde a exploração excessiva do aquífero Guarani pode tornar o uso do manancial inviável dentro de alguns anos.
A principal consequência da exploração é o rebaixamento do nível de água do lençol freático. Em Ribeirão Preto, cuja captação de água em sua totalidade é feita no Guarani, o nível tem caído 1 metro por ano, segundo dados de 2012 do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo. Desde 1950, o aquífero já baixou cerca de 70 metros. Mesmo assim, o consumo médio local ainda é 13 vezes maior do que a recarga natural do aquífero.
Em São José, onde o Aquífero Guarani é responsável por 30% do abastecimento de água, o nível do lençol freático chega a baixar 4 metros por ano, quatro vezes mais que em Ribeirão. No poço mais antigo de captação da cidade, que entrou em operação em 1978, a bomba já precisou descer 179 metros desde a primeira captação, segundo informações de 2014 do Semae, Serviço Municipal de Água e Esgoto de Rio Preto.
Em 2011, a Agência Nacional de Águas (ANA) produziu o Atlas de Abastecimento Urbano de Água, um estudo que avaliava a situação dos mananciais em todo o país, apontando os municípios onde a superexploração do manancial já indicava a necessidade de outras alternativas para o abastecimento de água. Segundo o relatório, medidas efetivas deveriam ser tomadas até 2015, caso contrário, a oferta de água não seria suficiente até o ano de 2025. Entre as cidades “no vermelho”, figuravam São Paulo e região metropolitana, Ribeirão Preto, Matão, São José do Rio Preto, Itu e Bauru.
O rebaixamento do nível de água em si é um fenômeno natural. Ele acontece porque o aquífero se recupera lentamente e para isso o ideal seria deixar o poço sem operação, para que a água volte ao nível normal. O problema é que a ausência de outras fontes alternativas para captação vai aos poucos exaurindo a capacidade do lençol. E fatores como o crescimento populacional das cidades, secas e também o desperdício agravam o problema.
“As consequências a longo prazo, caso não se gerencie com rigor e sustentabilidade a captação, é que esse manancial não conseguirá suprir as demandas futuras”, afirma Carlos Eduardo Giampá, especialista em águas subterrâneas da ABAS, Associação Brasileira de Águas Subterrâneas.
Soluções
Impedir a degeneração do aquífero nessas regiões passa por diferentes medidas. Algumas delas são: busca de fontes alternativas para captação de água, o que demandará investimento; proteção de áreas de mananciais; redução da exploração predatória do aquífero; abandono de práticas convencionais de engenharia, como a de canalização de rios; e replantio de árvores em áreas degradadas.
No caso de Ribeirão Preto, em meados de 2014, a cidade recebeu R$ 35 milhões em recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) para começar as obras na rede de água e esgoto, como ampliação dos reservatórios, perfuração de novos poços e substituição de tubulações antigas. Também montou uma comissão para avaliar a viabilidade de captação de água no Rio Pardo. Em São José do Rio Preto, onde além do Guarani, 40% da produção de água vêm do aquífero Bauru e mais 30% de represa, a cidade também aguardava R$ 16 milhões em recursos para iniciar obras de captação no Rio Grande, na altura de Icém, em Minas Gerais.
De acordo com Giampá, os municípios já inciaram iniciativas mais urgentes. “Em Ribeirão Preto, foram tomadas mediadas preventivas e restritivas, dividindo a cidade em três zonas, duas delas com controle e fiscalização para impedir as perfurações sem autorização e para produções de altas vazões. No caso de São José do Rio Preto, o número de poços nesse aquífero é bem menor, já que ele é mais profundo, estando o SEMAE utilizando sete poços, enquanto o DAERP (Ribeirão Preto) utiliza mais de 120”, explica.
Para ele, ainda resta ao poder público intensificar as políticas de sustentabilidade e de conscientização dos cidadãos para impactar diretamente a preservação das águas subterrâneas e a diminuição do desperdício. “Os órgãos gestores, prefeituras e escolas devem divulgar para a população material informativo sobre as águas subterrâneas, orientando e informando como elas ocorrem, como protegê-las; também campanhas mais duras, do tipo ‘se não preservar, vai faltar’”, afirma.
Fonte: Imprensa brasileira
Fonte: Imprensa brasileira
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